sábado, 24 de novembro de 2007

A riqueza do vizinho incomoda?

Será que de uma maneira geral, o consumo exagerado de alguém pode gerar efeitos negativos na vizinhança? Será que é incômodo ver o filho do vizinho andando na "Super Bike Plus" importada escutando música no seu Ipod de ultima geração, enquanto seu filho passeia de Zummi escutando musica em um rádio preso ao braço? Será que os pais de família são pressionados em seu ambiente familiar por perguntas do tipo: "Pai quando o senhor poderá comprar uma bicicleta daquela pra mim?" "Meu amor, não estaria na hora de trocar esse carro?" "PAI!! Você soube que nosso vizinho comprou uma mansão na praia?"

O fato é que, segundo Robert Frank, esse fenômeno pode mudar o rumo do pensamento econômico a respeito da teoria da tributação, com um argumento a favor da progressividade dos impostos sobre o consumo – a taxa de imposto em relação a renda ser maior para as pessoas que consomem mais.

A teoria de tributação ótima sobre o consumo, desenvolvida por Ramsey, apresenta conclusões que contrariam o senso comum de que todos os bens deveriam ser tributados por uma única alíquota. Ramsey argumenta que em termos de eficiência econômica não se deveria aplicar a mesma alíquota e sim que deveria haver uma redução proporcionalmente igual na quantidade consumida de cada bem, através de alíquotas diferentes para cada mercado. O critério seria taxar mais fortemente os bens mais inelásticos em relação ao preço, de forma que os bens de luxo estariam entre os menos taxados. A idéia é que, tratando-se de mercados sensíveis à variação de preços, alíquotas abusivas podem gerar a destruição parcial desse mercado.

Robert Frank parece ir de encontro aos resultados obtidos no modelo de Ramsey com um argumento aparentemente simples. Sua linha de raciocínio segue-se basicamente pela consideração de que a maioria dos bens são "posicionais", definem de alguma forma a posição de seus consumidores na sociedade. A sutileza é que deixa-se um pouco de lado nesse momento questões relativas a utilidade gerada pelo bem em si, incorporando nessa um efeito de Status Social gerado pelo produto. Assim, a compra de um bem "posicional" de alto valor agregado eleva a posição do comprador na vizinhança e consequentemente reduz a posição relativa de seus vizinhos, ou seja, esses indivíduos estariam impondo uma externalidade negativa a seus vizinhos com suas compras.

Dessa forma, a resolução desse problema seria taxar esse "vizinho rico" na tentativa de penalizá-lo pelas implicações negativas de seu consumo.

Quem estaria mais próximo da realidade?
A primeira vista Frank parece ignorar os efeitos negativos produzidos pela destruição parcial ou total desse mercado de bens de luxo. Provavelmente Ramsey lhe perguntaria: “Desemprego também não causaria externalidades negativas?”
Só pra ilustrar, segue a foto do possivel vizinho de Robert Frank :

Fonte:

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Malthus e os biocombustíveis

O portal Ambiente Brasil, considerado o maior portal ambiental da América latina, publicou uma matéria sobre a possibilidade de redução dos impactos gerados pelos biocombustíveis sobre biomas brasileiros. Novamente a preocupação sobre o conflito entre a produção desses combustíveis e de alimentos vem a tona, assim como levantaram Fidel e Chavez em outro momento.
O documento vem recheado de comentários sobre esse trade-off:

"...entidades de credibilidade inquestionável como a FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação -, preocupam-se com essa nova vedete, cujo encantamento pode sobrepujar a produção de alimentos, gerando um paradoxo surreal: garante-se "comida" aos veículos, mas não às pessoas"

ainda denuncia sinais a favor desse argumento:


"A pressão sobre florestas, Pantanal e Cerrado já começou – e tende a piorar"


Diante de todo esse sensacionalismo e essa preocupação exacerbada com a fome mundial, somos levados, quase que sem querer, a nos perguntar: "estamos prestes a conviver com malthusianos do biocombustível?"


Um rápido retrospecto: Malthus foi um economista britânico que se tornou conhecido por sua teoria catastrófica a respeito da expansão da população mundial. Naquele tempo a industrialização e urbanização permitiam um crescimento populacional que preocupava o estudioso que via certa incapacidade da oferta de alimentos em suprir aquela demanda. A sociedade estaria exposta ao que foi chamado posteriormente de "freio malthusiano" que impediria o crescimento populacional a partir de certo ponto.
Obviamente que o modelo proposto por Malthus não deve ser desconsiderado nem tão pouco subestimado, já que em algumas regiões do planeta o freio malthusiano parece operar, seria o caso de paises menos desenvolvidos do continente africano, a região do semi-árido no brasil....

Os contra-malthusianos argumentam que a principal falha da teoria anterior foi desconsiderar o desenvolvimento tecnológico. Para eles, a pressão sobre a oferta de alimentos geraria incentivos para aumento da produtividade no setor agrícola, incentivando assim o desenvolvimento de novas tecnologias de produção. A essência da falha foi a análise estática do trabalho, que não considerava essas possíveis variações durante o tempo.

Os neomalthusianos já argumentam que apesar do desenvolvimento tecnológico a causa da fome no mundo seriam problemas distributivos de renda, os preços limitariam os consumidores de baixa renda de se alimentarem bem. De forma geral, paises com renda baixa estariam condenados a isso. Essa seria uma explicação para o fato de acreditar-se que a produção mundial de alimentos seria capaz de servir atualmente 12 bilhões de pessoas (o dobro da população atual) mas o problema da distribuição de renda impede que a fome seja erradicada, ou seja, não trata-se de um problema de tecnologia. ( perdoem-me, não me lembro a fonte desses 12 bilhões)

Daí é possível fazermos as devidas associações:

1)Estaríamos incorrendo no mesmo erro dos nossos antepassados, desconsiderando a evolução tecnológica no setor de biocombustíveis?
2) Se o "freio malthusiano" de fato existe em algumas regiões menos desenvolvidas, que por sua vez não têm capital humano capaz de gerar esse desenvolvimento tecnológico, seriam essas regiões capazes de participar efetivamente dessa produção?
3) Estariam os biocombustíveis sendo oportunamente o bode expiatório para o problema da fome nos paises menos desenvolvidos?

sábado, 10 de novembro de 2007

Brasil na OPEP

Recentemente a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, foi escolhida para anunciar ao Brasil a descoberta de uma grande reserva de petroleo em Santos. A descoberta parece poder levar o Brasil ao patamar de "potência do petróleo como os paises árabes e a venezuela".


Acredita-se que a a reserva nacional, que é de 12 milhões de barris, aumenta para 20 milhões, podendo tornar o Brasil um grande exportador oligopolista.


Ainda que seja necessário um certo tempo para iniciar a exploração dos novos poços, que não devem ocorrer antes de 2013, uma onda de otimismo parece ter tomado conta do mercado, disparando as ações da petrobrás e alimentando os sonhos do nosso presidente, que fez comentários otimistas a respeito da novidade:



"Logo, logo o Brasil vai participar da Opep. E obviamente que se o Brasil participar da Opep nós vamos brigar para que baixe um pouco o preço do petróleo, porque é uma das contribuições que os países ricos em petróleo podem dar"



A notícia, isenta do comentário de Lula, já seria bastante inoportuna e contraditória, visto que a Petrobrás passa por grandes problemas em relação ao abastecimento de gás natural e que o Brasil pretende ser um grande produtor de biocombustíveis, contudo o principal paradoxo é o comentário do nosso presidente.

Todos sabem que a OPEP representa um dos maiores carteis do mundo, sendo comumente usado como principal exemplo de oligopólio nas aulas de teoria econômica.

A definição formal é: Oligópólio (do grego "oligos", poucos + "polens", vender) - Poucos vendedores

O Cartel é uma forma de oligopólio em que empresas legalmente independentes, geralmente atuantes do mesmo setor, promovem acordos entre si para promover o domínio de determinada oferta de produtos e/ou serviços. Esse controle da oferta se resume em manipulação de preços e minimização da concorrência leal.

A própria OPEP não esconde o jogo e sempre deixou claro que o obejtivo é escolher a quantidade ofertada de petroleo de modo a maximizar o lucro das empresas que compõem o oligopólio. Inclusive o New York Times publicou em 1973 o argumento do Irã para a manutenção de altos preços do petroleo: "Vocês compram nosso petróleo bruto e nos vendem ele de volta beneficiado na forma de produtos petroquímicos por uma centena de vezes o preço que vocês o compraram...; Seria no mínimo justo que, daqui pra frente, vocês paguem mais pelo petróleo. Poderíamos dizer umas 10 vezes mais."

Nesse cenário podemos nos perguntar:



O que pensou Lula ao propor um redução dos preços do petróleo caso o Brasil passe a ser membro do maior cartel do mundo? Afinal só se entra num cartel para se beneficiar dos altos preços, caso contrário mesmo sem ser da opep o Brasil começa a vender mais barato por conta própria, seria uma estratégia não cooperativa que estaria de acordo com os principios altruístas de nosso presidente.