sábado, 27 de outubro de 2007

Capital Nascimento e o mercado de drogas carioca

Assistir tropa de elite e ver todas as ações do, agora famoso, Capitão Nascimento contra o tráfico de drogas no Rio de Janeiro é no mínimo comovente. É intrigante ver nossa classe média queixar-se da violência sofrida nas ruas, da marginalização das classes menos favorecidas e até mesmo da agressividade dos nossos policiais e ao mesmo tempo demandar os bens oferecidos pelos traficantes do nosso país. É manifestar-se sobre algo que você inconscientemente (na maioria dos casos) ajudou ocorrer.

É inegável que o poder dos traficantes está intimamente ligado com a rentabilidade de seu negócio e assim podemos abrir um parêntese em toda essa discussão envolvendo o polêmico filme e nos perguntar: "Capitão Nascimento de fato ajuda a reduzir o poder do tráfico?"

Vejamos primeiro a estrutura desse mercado.

De forma bem simplista podemos dizer que do lado da procura temos uma demanda altamente inelástica, ou seja, mesmo que os preços aumentem a quantidade demandada não se reduz consideravelmente.

Do lado da oferta, temos uma estrutura de Oligopólio, na qual tudo indica que a estratégia de não-cooperar é de fato dominante (basta analisar como se tratam esses grupos) De qualquer maneira os traficantes tem poder de mercado e podem influenciar na determinação dos preços dos bens oferecidos (nesse caso podemos usar uma nomenclatura diferente: os "males" oferecidos)

Daí tem-se que os traficantes elevam os preços e a demanda continua relativamente alta. Eles maximizam o lucro através de seu poder de mercado! Escolhem os preços que maximizam a rentabilidade de seu empreendimento. E esse lucro gerado será o meio de troca para obtenção das armas e equipamentos necessários para manter o bom funcionamento do complexo.

Agora chega a vez de Capitão Nascimento ( já posso ouvi-lo dizer: "já avisei que isso vai da merda")

Qual seria o impacto da morte de Baiano no mercado de drogas do Rio de Janeiro? Ainda considerando a estrutura simplista que criamos, vemos que matar o traficante baiano é destruir as atividades de uma das empresas que compunha o Oligopólio, contudo a demanda muito provavelmente não sofrerá grandes variações. Assim mantido os preços das drogas, os traficantes restantes receberão um positivo aumento da demanda - serão os antigos clientes do Baiano.

É como se a curva de demanda se deslocasse positivamente para cada uma das empresas que sobrevivem no mercado (ou ao BOPE). Esse aumento da demanda é revertido em lucro e logo se aumenta o poder do tráfico. No extremo teríamos um monopólio incrivelmente forte economicamente, e no caso particular desse mercado, militarmente.

Ou seja, deveríamos apoiar as ações do BOPE ou estudar maneiras mais eficientes de reduzir a demanda e consequentemente matar o mal pela raiz?

A pergunta: "Nós seremos capazes de reduzir essa demanda?"
Resposta do Capitão Nascimento: "NUNCA SERÃO"

15 Comentários:

Às 27 de outubro de 2007 às 09:31 , Blogger Unknown disse...

tá ótimo o texto
ainda não pude ver o filme
mas acho que esse texto é um bom início para a discussão sobre drogas
em como "matar o mal pela raiz".
e acho que até podemos discutir sobre a legalização, efeitos colaterais e tal, pois essa pode ser uma forma de matar o mal pela raiz (ou não).

 
Às 27 de outubro de 2007 às 09:52 , Blogger Clarissa disse...

Parabéns pelo texto,Paulo, e pela criação do blog também. Concordo com o seu ponto de vista. Acredito que aumentar o nível de informação sobre os danos da utilização de drogas seria uma das possibilidades de deslocar a demanda para baixo. A questão é que, no Brasil,os formadores de políticas são acostumados a atuar nas conseqüências...

 
Às 27 de outubro de 2007 às 10:24 , Blogger BLOG JOVEM DOS PALMARES disse...

Paulo,
Parabéns pela idéia e também pelo texto.
É de fundamental importância termos um instrumento para distumirmos de forma simples, e até engraçada, os problemas de nossa sociedade.Como bem disse Fábio, precisa-se de maiores discussões sobre a legalização das drogas e sobre as formas de acabar com esse mal(o tráfico)que atinge o País.
É verdade que se aumentar as informações sobre os males causados pelas drogas, provavelmente haverá uma diminuição na demanda, mas sabemos também que boa parte das pessoas que usam drogas tem informações suficientemente grandes para saber dos respectivos efeitos ocasinados pelo uso dessas substâncias.
Abraço.

 
Às 27 de outubro de 2007 às 14:23 , Blogger Unknown disse...

Parabéns pela idéia do blog Paulo.
As drogas sempre existiram e sempre vão existir. Hoje droga não é falta de informação, é uma opção! Lutar contra sua existência e comercialização é um tanto quanto complicado. Penso que educação, cultura e emprego (pra variar!), sejam as alternativas para essas crianças que ingressam no tráfico todos os dias. A existência de uma opção para elas. Sem opção, eu mesmo que não iria morrer de fome. Ia ser droga na cabeça e bala nos "Alemão".

 
Às 28 de outubro de 2007 às 08:12 , Blogger Paulo Vaz disse...

De fato a maioria das pessoas que decidiram não usar drogas não o fizeram porque é proibido legalmente! Na maioria dos casos você não usa porque não tem interessa de usar-la dada as informações que você tem sobre elas.
Um exemplo é o tabaco que seu consumo é permitido e nem por isso todos fumam.
Provavelmente a legalização das drogas desviaria o consumo das mão dos traficantes e logo reduziria seu poder.
Resta saber qual seria a saída para os atuais traficantes depois que decretarem falência de sua boca de fumo

 
Às 28 de outubro de 2007 às 08:48 , Blogger Unknown disse...

Parabéns Paulo, gostei muito do texto e da idéia do blog.
Particularmente, acredito que a legalização das drogas contribuiria, pelo menos, para a redução da violência. Contudo, não se pode pensar que essa media seja suficiente (aí entra a educação).
De qualquer forma, é preciso debater amplamente a questão, antes de adotar qualquer política.

 
Às 28 de outubro de 2007 às 09:02 , Blogger Paulo Vaz disse...

É pow, de fato deve ser discutido bem!! o problema é que a legalização é sempre mal vista, mesmo que não se pense muito no assunto. A Holanda já legalizou, já se fala em legalização para a Inglaterra. E na Inglaterra eles querem legalizar, mas ao mesmo tempo fazer campanhas de recuperação de viciados e de educação contra as drogas e tal. Ou seja, a legalização também pode ser usada como política para redução dos problemas com drogas em um país, seu papel seria desvincular o carater ilegal da compra/venda e logo reduzir os problemas sociais gerados por isso.

 
Às 28 de outubro de 2007 às 15:29 , Blogger Unknown disse...

Paulinho, como sempre vc com excelentes idéias! Adorei o texto e tenha certeza que seu blog ficará nos meus "favoritos". Aguardo ansiosamente o próximo texto. Adorei o visão do filme, mostrar quem realmente sustenta essa violência. E que é extremamente complicada de se reverter. O tráfico é um negócio extremamente rentável e ainda mais sem um "órgão regulador de preços". Nada mais fácil que vender um produto que vicia e sendo um "monopólio". Acredito numa política de legalização atrelada a uma forte campanha de conscientização. Ah! além da criação de um órgão regulador para tentar diminuir os lucros e haver um desincentivo nessa "indústria". Beijos, Carol Lopes

 
Às 28 de outubro de 2007 às 16:51 , Blogger Brenno Almeida disse...

Que essa pata continue a por mais ovos ...

Vida longa ao homo economicus !

 
Às 28 de outubro de 2007 às 18:14 , Blogger Anna Mª Forsberg disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
Às 28 de outubro de 2007 às 18:19 , Blogger Anna Mª Forsberg disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
Às 28 de outubro de 2007 às 18:22 , Blogger Anna Mª Forsberg disse...

Paulinho, gostei muito do texto.
A questão da legalização é fundamental nesse debate e é, ao mesmo tempo, muito polêmica, obviamente.
Uma moral tipicamente Latino Americana faz o contrapeso a este argumento. Ainda há outros contrapontos, como o possível aumento do consumo e um reflexo negativo na saúde pública. No entanto, eu não consigo me convencer de que a legalização faria aumentar o consumo.
Então, só como sugestão: tu poderias nos presentear com um texto falando um pouco dos possíveis reflexos econômicos da legalização!
Aproveito para recomendar um filme colombiano: "Rosario Tijera", que aborda questões próximas ao nosso brasuca "Tropa de Elite". (não sei se existe a versão em português)
abraços
Anna Maria

 
Às 28 de outubro de 2007 às 19:59 , Blogger Unknown disse...

Não sei como é estabelecido o preço das drogas ilegais...será que os vários grupos de traficantes têm o poder de mercado suficiente para serem considerados em conjunto como monopólio????? Que relevancia tem a demanda nesse mercado já que ela é considerada inelásticas?????
Vejo que se o Estado quer combater o tráfico de drogas, ou ele legaliza ou faz com que não haja demanda, que é uma utopia. Pois havendo demanda, sempre haverá incentivo à aumento da oferta por conta dos aumentos de preços vindos da coerção da polícia. No fim o mercado sempre existirá rondando o equilíbrio.

 
Às 28 de outubro de 2007 às 20:10 , Blogger Paulo Vaz disse...

Ei Otávio, eu comentei que NO EXTREMO teria-se um monopolista, mas no momento a estrutura era de Oligopolio, mas diferente de grupos como a OPEP, os traficantes parecem não cooperar! Não podemos considerar como um bloco só, mas de alguma maneira ainda é plausivel considerar o poder de mercado de cada um capaz de segurar os preços em um patamar alto e assegurar uma boca de alta rentabilidade!

 
Às 29 de outubro de 2007 às 22:25 , Blogger João Rocha disse...

Paulo,
Como havia comentado antes no orkut, quero reforçar aqui e parabenizar pela iniciativa e, também, pela boa análise da situação que envolve toda sociedade, como um todo. Seria legal, se as pessoas vissem essa análise como real e não apenas como uma "interpretação do filme", já que o filme retrata a realidade.
Abraço, cara!

 

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