quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Standislau Macário - “Ao Vencedor As Batatas”

(Fábio Botler - semsenso@gmail.com)
Depois de muito saborear os diversos pratos que rodeiam o mundo, resolvi me dedicar a uma pesquisa não-nutricional sobre um tubérculo em particular: A Batata. Esta que hoje chega a ocupar elevado lugar em minha pirâmide alimentar um dia foi simples personagem da literatura brasileira. Venho através deste, com único e principal objetivo a defesa de uma tese político-econômica com relação às batatas. Personagem que acredito ter enorme representatividade na economia mundial, mas que nunca foi lhe dada a devida importância; por exemplo: qual o estado brasileiro que mais produz batatas? Minas Gerais.
Para se ter uma idéia da importância da batata no dia-a-dia, basta-nos saber que a vodka é apenas um simples destilado seu. Sua utilidade é tanta que chega até a produzir energia, conseguindo criar uma tensão de quase 1volt e meio.
No Brasil nós temos uma enorme diferença no uso das batatas relacionado com as regiões: no nordeste o cachorro-quente é composto por salsicha, milho, ervilha, batata palha, entre outros; já no sul do país este vem com adição de um ingrediente extremamente indispensável: o purê de batatas. Este fato é suficiente para entendermos as diferenças econômicas e sociais entre as regiões do Brasil. Mas hoje todos só dão atenção à soja.
Na Inglaterra o prato que demonstra a cultura local é o famoso filé de peixe frito com batata e esta passa a ser então o maior alimento consumido em tal localidade, sem contar que a maioria das guerras que os envolviam era movida a batatas, inclusive a colonização norte-americana. Em inglês, batata frita se chama French Fries, citando assim, mais um país da Europa, um dos desenvolvidos.
Os Incas já usavam batatas em suas cerimônias a mais de mil anos. Estudos comprovam que várias culturas infantis usam batatas para fazer pequenas estatuetas, provavelmente representando as suas divindades. Além do mais, o nome batata é um substantivo simples, de três sílabas mais simples ainda, com uma única vogal, que pode compor o vocabulário de crianças de dois anos, ajudando no desenvolvimento psicológico e estimulando a comunicação.
Podemos ver que a batata um dia desenvolveu uma casca para sua proteção, mas ao perceber a utilidade de se esconder de baixo da terra, passou a direcionar suas energias para tal ato, regredindo a capacidade defensiva de sua casca. Hoje podemos ver que vários animais que na pirâmide evolutiva estão em posição superior invejam esta habilidade tentando ao máximo se esconder de baixo da terra, por exemplo, o avestruz, que esconde a cabeça debaixo da terra no primeiro sinal de perigo. A formiga passa a vida inteira debaixo da terra, sai apenas para encontrar alimentos. Os seres humanos, se fossem racionais, passariam mais tempo debaixo da terra para se proteger da radiação ultravioleta emitida pelo deus Sol.
Entre as várias maneiras de ingestão, a mais popular de todas que já conquistou o mundo inteiro, graças ao Mc donald’s, é a batata frita, que é uma das maiores fontes de alimentação e assim, saúde para os EUA (apesar de controvérsias com relação à chamá-la de batata). Temos também a batata doce, que excita os instintos mais saudáveis do ser humano. Sua consistência dura-não-mole nos permite ainda comê-las cozidas, assadas, lavadas, sujas, aladas, enrugadas etc... E tudo indica que serão a próxima forma de vida dominante. Não restando assim, após este, dúvida alguma de que a batata exerce sim um papel fundamental na economia e assim na sociedade.
* - Machado de Assis

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Quem sãos os verdadeiros piratas?

O ministério da justiça anunciou, em Setembro, um plano de ações para coibir a pirataria no Brasil. O país do futebol e do samba parece acreditar na fragilização do mercado da grande paixão nacional: a música.

"A pirataria é o crime do século 21", afirmou Luiz Paulo Barreto, presidente do CNCP (Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual) e secretário-executivo do Ministério da Justiça

O problema é definir que sãos os verdadeiros piratas? Quem de fato sai prejudicado com esse "crime" no mercado fonográfico?

A principio vamos tentar entender essa indústria antes e depois dessa revolução tecnológica.

O mercado global da música gerou 38,5 bilhões de dólares em 2000, sendo 14,3 bilhões da indústria norte-americana, que no mesmo ano apresentou 5% de seu PIB gerado por direitos autorais (música, filmes, publicações, softwares e design). Para permitir uma análise comparativa esses percentual do PIB é maior do que qualquer outro grupo industrial, inclusive incluindo a produção de automóveis.

Já cientes de ser um grande mercado devemos nos preocupar agora como ocorre as interações entre músicos, gravadoras e consumidores finais. Trata-se nesse caso de um mercado altamente concentrado nas mãos de poucas corporações: Sony, Bertelsmann e EMI. Seria uma espécie de "monopólio natural" uma vez que, com advento das novas tecnologias, o custo marginal (custo de produção de um disco adicional) é próximo de zero e o custo fixo é muito alto.

"É preciso de muito capital para fabricar um pop star ou qualquer celebridade de uso generalizado" Diane Coyle

O fato é que o negócio da música acaba ficando restrito a essas grandes corporações que serão os intermediários entre os músicos e os consumidores finais de sua obra. A concentração de mercado como sempre permite a essas corporações selecionar seu público alvo e maximizar seu lucro com preços altos. Além disso, o fato de necessitar de grandes inversões iniciais também coloca os reais produtores da música em uma posição de dependência em relação às gravadoras para sua inserção. Perceba que essa "dependência" sempre se reverte em poder econômico, ou seja, como uma espécie de monopsônio (restrito grupo de compradores) as gravadoras podem explorar seus artistas lhes oferecendo menos do que de fato poderiam ganhar nessa indústria com a distribuição de CDs e/ou DVDs.

Nessa estrutura relativamente simplista, têm-se dois agentes aparentemente prejudicados. Os músicos de uma forma geral encontram barreiras de mercado que dificultam sua inserção e barateiam seu trabalho e os consumidores encontram dificuldades na obtenção do bem. Não vamos esquecer que a estrutura de monopólio e monopsônio permitem as gravadoras trabalharem com altas taxas de lucro, sendo aparentemente os agentes beneficiados com a estrutura.

Assim, com a revolução tecnológica gerada pelos gravadores de CD e o pioneiro intermediador de trocas de MP3, o NAPSTER, devemos perceber quem foi o principal prejudicado.

A principio o grande uso da internet e a facilidade de produção de mp3 rompem as barreiras encontradas pelos músicos e leva o consumidor a uma posição ótima, com preço baixo e grande variedade de escolha (no economês diríamos que há uma expansão enorme do excedente do consumidor, principalmente para os que consomem a custo zero - a curva de utilidade apresenta movimento explosivo kkk )

A questão é que o uso dos mp3 e a troca de arquivos pela internet na pior da hipóteses vem reduzindo o tamanho do mercado apenas para as gravadoras, que sentem dificuldades de vender seus CDs e DVDs. Contudo um novo mercado menos concentrado parece surgir, ou pelo menos se fortalecer, no qual os clientes continuam sendo os mesmos, mas o produto final fica sendo o show realizado pelo grupo, sendo a gravação apenas um meio de divulgação, não o produto principal.

O que parece é que, ao contrário do que se argumenta, a pirataria não fere diretamente os direitos autorais, nem desincentiva a produção musical, mas quebra o domínio das gravadoras, levando a uma melhor distribuição dos lucros da indústria.

Obviamente que existem uma série de particularidades associadas a essa prática como o fato de não participar legalmente das atividades econômicas do país e de produzir muitas vezes produtos de baixa qualidade que danificam nossos aparelhos. Contudo parece ser claro que a revolução tecnológica está permitindo estreitar os laços entres os músicos e seu público.

É bem interessante recordar que tecnologia aparece como vilã na maior parte das vezes, quiçá porque quase toda tecnologia é poupadora de mão-de-obra, de forma que a humanidade já passou por conflitos semelhantes ao discutido quando houve o advento da tecnologia de fotocópias e do videocassete, imaginando que haveria nesse momento o fim para as publicações e para o mercado cinematográfico. O próprio desenvolvimento da rádio veio acompanhado de discussões semelhantes aos que norteiam as discussões a respeito do compartilhamento de musicas na internet, a transmissão gratuita assustava os músicos que não viam claramente onde ganhariam o "pão de cada dia".(percebamos que o segredo estava na expansão do mercado)

Seria o que Schumpeter chamaria de "destruição criativa", na qual mercados são destruídos e abrem espaço para criação de novas estruturas que dinamizarão a atividade.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

CPMF: incidência legal e econômica


No início de novembro desse ano, o atual ministro da fazenda Guido Mantega proferiu o seguinte comentário: "Isenção da CPMF pode atingir 90% da população" ao ser questionado quanto à possibilidade de isentar pessoas que ganham R$1640,00.

Contudo parece existir aqui um conflito básico entre os conceitos de incidência legal e incidência econômica. É possível, segundo a teoria microeconômica, que o setor público tente tributar apenas os consumidores e por fim acabe tributando também os produtores, uma vez que há redução das vendas como conseqüência do aumento gerado nos preços. É apenas um exemplo de que nem toda decisão legal é efetiva em seus propósitos, pois existem as forças de mercado que por ventura podem operar em sentido contrário.

Não se pode esquecer que as empresas também pagam a CPMF em suas movimentações financeiras e seguramente estarão compondo os 10% que continuarão "contribuindo". Sendo assim, como faz parte da lógica de definição de preços de uma firma, esse tributo será repassado de alguma forma para o consumidor final, independente de seu nível de renda.

Assim, mesmo que seja votada a isenção legal da contribuição para pessoas que ganham menos de R$1640, esses cidadãos continuarão pagando o imposto indiretamente, sem embargo é bastante oportuno nesse caso o uso do clichê: "o que o olhos não vêem o coração não sente"

domingo, 2 de dezembro de 2007

Africa: dinheiro traz felicidade?

"Pelo amor de Deus, parem de ajudar a África!", afirma James Shikwati, economista do Quênia.
A primeira vista parece praticamente impossível aceitar essa colocação, seria como abandonar o espírito fraternal típico dos mamíferos, que nos faz sentir responsáveis pelas péssimas condições de vidas de alguns de nossos semelhantes.
Percebamos que por trás desse pensamento mora uma idéia simples, naturalmente desprezada em outras ocasiões: dinheiro traz felicidade.
Quando vibramos com maiores níveis de recursos destinados ao continente Africano ou com uma dívida externa perdoada, estamos de alguma forma presos ao pressuposto de que esse montante será em sua maioria investido, surgindo como a saída para esses países que em breve poderão "andar com suas próprias pernas". Ou seja, que o dinheiro será capaz de melhorar o nível de bem estar social dessas regiões.
O fato é que normalmente é fácil fechar os olhos para elementos que seriam fundamentais para a obtenção desse resultado.
Primeiro não parece muito comum analisar as mudanças nos incentivos gerados por esse tipo de benevolência, afinal um país que tem costume de não honrar suas dívidas e ser naturalmente perdoado no futuro, tem motivação suficiente para não honra-la.
Segundo, não é comum se discutir qual o real volume de inversão, pois nos modelos de crescimento econômico a palavra de ordem é investimento, seja ele em capital físico ou humano, existe um consenso aparente de que maiores taxas de investimento são responsáveis por um maior nível de renda no longo prazo. Assim, se a maior parte desses recursos se destina simplesmente a compra de comida ou é desviado via corrupção o objetivo final dificilmente torna-se factível. Uma analogia simples seria imaginar um individuo de baixa renda que adquire uma dívida para a compra de comida, roupa, relógio, bicicleta, bolsa, sapato, computador e uma Tv digital, tornando impossível honrar sua dívida no ano seguinte, pois esse tipo de consumo não costuma apresentar rendimentos positivos, com exceção dos atletas do Quênia que na compra de roupa e tênis apropriados vêm receber seus prêmios nas maratonas internacionais, ou seja , os recursos não são utilizados para gerarem mais dinheiro, apenas para satisfazer necessidades pontuais.

Quanto ao primeiro ponto de questionamento, o especialista Queniano parece tecer a maioria de seus comentários sob essa premissa de que as ajudas modificaram a estrutura de incentivos nos países pobres do continente africano. Segundo ele, "os africanos aprendem a ser mendigos, e não independentes" E levanta um ponto adicional. As ajudas da ONU ao continente africano despejam nessas regiões uma enorme quantidade de produtos agrícolas americanos e europeus, altamente subsidiados, que chegam de graça à maioria das pessoas que passam fome e posteriormente circula no mercado negro a baixos níveis de preço. Dessa forma, as forças de mercado tornam impossível o desenvolvimento da agricultura local, afinal o excesso de oferta reduz o preço dos alimentos e inviabiliza a produção por parte dos agricultores locais.

Em relação ao segundo ponto, duas matérias publicadas recentemente levantam seguem essa linha:

O espanhol El país publicou dia 03 de dezembro desse ano a matéria: La ayuda fracasa, pero África despega, apresentando argumentos a favor da continuidade da ajuda, mas apresentando as principais justificativas para os resultados pífios da política de transferência ocidental, dentre eles a corrupção surge como elemento principal, além de questionar o tipo de investimento que normalmente era realizado, falando inclusive em um novo tipo de ajuda.

No Wall Street Journal o problema gerou discussão quando o Banco Mundial bloqueou o empréstimo às Filipinas, argumentando principalmente que grande parte do dinheiro seria desviada por corrupção e que não era evidente a capacidade de prover a estrada a qual se propunham, levando a crer que, como em muitos casos, a corrupção não é a causa do problema e sim um sintoma de imcompetência administrativa e burocrática do país. De uma maneira geral, essa ação foi considera como parte de um plano maior do Banco Mundial de lutar contra a corrupção nos paises beneficiados.

Dessa forma, já fica mais claro que os argumento a favor de teorias aparentemente "desumanas" são bem fundamentados e no mínimo servem para um debate maior acerca desse problema, ampliando a discussão.

É válido perceber aqui algo sutil que poderia passar facilmente despercebido. Existe um sentimento que parece ser comum entre os países subdesenvolvidos: "estamos assim porque fomos explorados no passado e logo vocês (os paises ricos) são responsáveis por nossa situação atual e, assim sendo, devem nos ajudar" No entanto, os problemas que inviabilizaram o desenvolvimento advindo do grande volume de inversões externas foram sintomas de falhas administrativas, má utilização dos recursos.

Ou seja, tem-se aqui uma confortável posição de falhar na provisão de investimentos rentáveis e culpar alguma força do mal (tipo: o Brasil nunca vai pra frente, uma espécie de condenação mística*) ou culpar o constante espírito de porco das economias dominantes, que planejam simultaneamente o sucesso econômico de sua nação e o fim deplorável para o restante.

Obviamente que não podemos incorrer no erro de considerar que as economias dominantes estão sempre com boas intenções, contudo seria interessante refletir: Até quando vamos nos esconder sobre a manta da conspiração?

* “Quando nasci veio um anjo safado/O chato do querubim/E decretou que eu estava predestinado/A ser errado assim“
Chico Buarque



sábado, 24 de novembro de 2007

A riqueza do vizinho incomoda?

Será que de uma maneira geral, o consumo exagerado de alguém pode gerar efeitos negativos na vizinhança? Será que é incômodo ver o filho do vizinho andando na "Super Bike Plus" importada escutando música no seu Ipod de ultima geração, enquanto seu filho passeia de Zummi escutando musica em um rádio preso ao braço? Será que os pais de família são pressionados em seu ambiente familiar por perguntas do tipo: "Pai quando o senhor poderá comprar uma bicicleta daquela pra mim?" "Meu amor, não estaria na hora de trocar esse carro?" "PAI!! Você soube que nosso vizinho comprou uma mansão na praia?"

O fato é que, segundo Robert Frank, esse fenômeno pode mudar o rumo do pensamento econômico a respeito da teoria da tributação, com um argumento a favor da progressividade dos impostos sobre o consumo – a taxa de imposto em relação a renda ser maior para as pessoas que consomem mais.

A teoria de tributação ótima sobre o consumo, desenvolvida por Ramsey, apresenta conclusões que contrariam o senso comum de que todos os bens deveriam ser tributados por uma única alíquota. Ramsey argumenta que em termos de eficiência econômica não se deveria aplicar a mesma alíquota e sim que deveria haver uma redução proporcionalmente igual na quantidade consumida de cada bem, através de alíquotas diferentes para cada mercado. O critério seria taxar mais fortemente os bens mais inelásticos em relação ao preço, de forma que os bens de luxo estariam entre os menos taxados. A idéia é que, tratando-se de mercados sensíveis à variação de preços, alíquotas abusivas podem gerar a destruição parcial desse mercado.

Robert Frank parece ir de encontro aos resultados obtidos no modelo de Ramsey com um argumento aparentemente simples. Sua linha de raciocínio segue-se basicamente pela consideração de que a maioria dos bens são "posicionais", definem de alguma forma a posição de seus consumidores na sociedade. A sutileza é que deixa-se um pouco de lado nesse momento questões relativas a utilidade gerada pelo bem em si, incorporando nessa um efeito de Status Social gerado pelo produto. Assim, a compra de um bem "posicional" de alto valor agregado eleva a posição do comprador na vizinhança e consequentemente reduz a posição relativa de seus vizinhos, ou seja, esses indivíduos estariam impondo uma externalidade negativa a seus vizinhos com suas compras.

Dessa forma, a resolução desse problema seria taxar esse "vizinho rico" na tentativa de penalizá-lo pelas implicações negativas de seu consumo.

Quem estaria mais próximo da realidade?
A primeira vista Frank parece ignorar os efeitos negativos produzidos pela destruição parcial ou total desse mercado de bens de luxo. Provavelmente Ramsey lhe perguntaria: “Desemprego também não causaria externalidades negativas?”
Só pra ilustrar, segue a foto do possivel vizinho de Robert Frank :

Fonte:

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Malthus e os biocombustíveis

O portal Ambiente Brasil, considerado o maior portal ambiental da América latina, publicou uma matéria sobre a possibilidade de redução dos impactos gerados pelos biocombustíveis sobre biomas brasileiros. Novamente a preocupação sobre o conflito entre a produção desses combustíveis e de alimentos vem a tona, assim como levantaram Fidel e Chavez em outro momento.
O documento vem recheado de comentários sobre esse trade-off:

"...entidades de credibilidade inquestionável como a FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação -, preocupam-se com essa nova vedete, cujo encantamento pode sobrepujar a produção de alimentos, gerando um paradoxo surreal: garante-se "comida" aos veículos, mas não às pessoas"

ainda denuncia sinais a favor desse argumento:


"A pressão sobre florestas, Pantanal e Cerrado já começou – e tende a piorar"


Diante de todo esse sensacionalismo e essa preocupação exacerbada com a fome mundial, somos levados, quase que sem querer, a nos perguntar: "estamos prestes a conviver com malthusianos do biocombustível?"


Um rápido retrospecto: Malthus foi um economista britânico que se tornou conhecido por sua teoria catastrófica a respeito da expansão da população mundial. Naquele tempo a industrialização e urbanização permitiam um crescimento populacional que preocupava o estudioso que via certa incapacidade da oferta de alimentos em suprir aquela demanda. A sociedade estaria exposta ao que foi chamado posteriormente de "freio malthusiano" que impediria o crescimento populacional a partir de certo ponto.
Obviamente que o modelo proposto por Malthus não deve ser desconsiderado nem tão pouco subestimado, já que em algumas regiões do planeta o freio malthusiano parece operar, seria o caso de paises menos desenvolvidos do continente africano, a região do semi-árido no brasil....

Os contra-malthusianos argumentam que a principal falha da teoria anterior foi desconsiderar o desenvolvimento tecnológico. Para eles, a pressão sobre a oferta de alimentos geraria incentivos para aumento da produtividade no setor agrícola, incentivando assim o desenvolvimento de novas tecnologias de produção. A essência da falha foi a análise estática do trabalho, que não considerava essas possíveis variações durante o tempo.

Os neomalthusianos já argumentam que apesar do desenvolvimento tecnológico a causa da fome no mundo seriam problemas distributivos de renda, os preços limitariam os consumidores de baixa renda de se alimentarem bem. De forma geral, paises com renda baixa estariam condenados a isso. Essa seria uma explicação para o fato de acreditar-se que a produção mundial de alimentos seria capaz de servir atualmente 12 bilhões de pessoas (o dobro da população atual) mas o problema da distribuição de renda impede que a fome seja erradicada, ou seja, não trata-se de um problema de tecnologia. ( perdoem-me, não me lembro a fonte desses 12 bilhões)

Daí é possível fazermos as devidas associações:

1)Estaríamos incorrendo no mesmo erro dos nossos antepassados, desconsiderando a evolução tecnológica no setor de biocombustíveis?
2) Se o "freio malthusiano" de fato existe em algumas regiões menos desenvolvidas, que por sua vez não têm capital humano capaz de gerar esse desenvolvimento tecnológico, seriam essas regiões capazes de participar efetivamente dessa produção?
3) Estariam os biocombustíveis sendo oportunamente o bode expiatório para o problema da fome nos paises menos desenvolvidos?

sábado, 10 de novembro de 2007

Brasil na OPEP

Recentemente a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, foi escolhida para anunciar ao Brasil a descoberta de uma grande reserva de petroleo em Santos. A descoberta parece poder levar o Brasil ao patamar de "potência do petróleo como os paises árabes e a venezuela".


Acredita-se que a a reserva nacional, que é de 12 milhões de barris, aumenta para 20 milhões, podendo tornar o Brasil um grande exportador oligopolista.


Ainda que seja necessário um certo tempo para iniciar a exploração dos novos poços, que não devem ocorrer antes de 2013, uma onda de otimismo parece ter tomado conta do mercado, disparando as ações da petrobrás e alimentando os sonhos do nosso presidente, que fez comentários otimistas a respeito da novidade:



"Logo, logo o Brasil vai participar da Opep. E obviamente que se o Brasil participar da Opep nós vamos brigar para que baixe um pouco o preço do petróleo, porque é uma das contribuições que os países ricos em petróleo podem dar"



A notícia, isenta do comentário de Lula, já seria bastante inoportuna e contraditória, visto que a Petrobrás passa por grandes problemas em relação ao abastecimento de gás natural e que o Brasil pretende ser um grande produtor de biocombustíveis, contudo o principal paradoxo é o comentário do nosso presidente.

Todos sabem que a OPEP representa um dos maiores carteis do mundo, sendo comumente usado como principal exemplo de oligopólio nas aulas de teoria econômica.

A definição formal é: Oligópólio (do grego "oligos", poucos + "polens", vender) - Poucos vendedores

O Cartel é uma forma de oligopólio em que empresas legalmente independentes, geralmente atuantes do mesmo setor, promovem acordos entre si para promover o domínio de determinada oferta de produtos e/ou serviços. Esse controle da oferta se resume em manipulação de preços e minimização da concorrência leal.

A própria OPEP não esconde o jogo e sempre deixou claro que o obejtivo é escolher a quantidade ofertada de petroleo de modo a maximizar o lucro das empresas que compõem o oligopólio. Inclusive o New York Times publicou em 1973 o argumento do Irã para a manutenção de altos preços do petroleo: "Vocês compram nosso petróleo bruto e nos vendem ele de volta beneficiado na forma de produtos petroquímicos por uma centena de vezes o preço que vocês o compraram...; Seria no mínimo justo que, daqui pra frente, vocês paguem mais pelo petróleo. Poderíamos dizer umas 10 vezes mais."

Nesse cenário podemos nos perguntar:



O que pensou Lula ao propor um redução dos preços do petróleo caso o Brasil passe a ser membro do maior cartel do mundo? Afinal só se entra num cartel para se beneficiar dos altos preços, caso contrário mesmo sem ser da opep o Brasil começa a vender mais barato por conta própria, seria uma estratégia não cooperativa que estaria de acordo com os principios altruístas de nosso presidente.