segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Malthus e os biocombustíveis

O portal Ambiente Brasil, considerado o maior portal ambiental da América latina, publicou uma matéria sobre a possibilidade de redução dos impactos gerados pelos biocombustíveis sobre biomas brasileiros. Novamente a preocupação sobre o conflito entre a produção desses combustíveis e de alimentos vem a tona, assim como levantaram Fidel e Chavez em outro momento.
O documento vem recheado de comentários sobre esse trade-off:

"...entidades de credibilidade inquestionável como a FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação -, preocupam-se com essa nova vedete, cujo encantamento pode sobrepujar a produção de alimentos, gerando um paradoxo surreal: garante-se "comida" aos veículos, mas não às pessoas"

ainda denuncia sinais a favor desse argumento:


"A pressão sobre florestas, Pantanal e Cerrado já começou – e tende a piorar"


Diante de todo esse sensacionalismo e essa preocupação exacerbada com a fome mundial, somos levados, quase que sem querer, a nos perguntar: "estamos prestes a conviver com malthusianos do biocombustível?"


Um rápido retrospecto: Malthus foi um economista britânico que se tornou conhecido por sua teoria catastrófica a respeito da expansão da população mundial. Naquele tempo a industrialização e urbanização permitiam um crescimento populacional que preocupava o estudioso que via certa incapacidade da oferta de alimentos em suprir aquela demanda. A sociedade estaria exposta ao que foi chamado posteriormente de "freio malthusiano" que impediria o crescimento populacional a partir de certo ponto.
Obviamente que o modelo proposto por Malthus não deve ser desconsiderado nem tão pouco subestimado, já que em algumas regiões do planeta o freio malthusiano parece operar, seria o caso de paises menos desenvolvidos do continente africano, a região do semi-árido no brasil....

Os contra-malthusianos argumentam que a principal falha da teoria anterior foi desconsiderar o desenvolvimento tecnológico. Para eles, a pressão sobre a oferta de alimentos geraria incentivos para aumento da produtividade no setor agrícola, incentivando assim o desenvolvimento de novas tecnologias de produção. A essência da falha foi a análise estática do trabalho, que não considerava essas possíveis variações durante o tempo.

Os neomalthusianos já argumentam que apesar do desenvolvimento tecnológico a causa da fome no mundo seriam problemas distributivos de renda, os preços limitariam os consumidores de baixa renda de se alimentarem bem. De forma geral, paises com renda baixa estariam condenados a isso. Essa seria uma explicação para o fato de acreditar-se que a produção mundial de alimentos seria capaz de servir atualmente 12 bilhões de pessoas (o dobro da população atual) mas o problema da distribuição de renda impede que a fome seja erradicada, ou seja, não trata-se de um problema de tecnologia. ( perdoem-me, não me lembro a fonte desses 12 bilhões)

Daí é possível fazermos as devidas associações:

1)Estaríamos incorrendo no mesmo erro dos nossos antepassados, desconsiderando a evolução tecnológica no setor de biocombustíveis?
2) Se o "freio malthusiano" de fato existe em algumas regiões menos desenvolvidas, que por sua vez não têm capital humano capaz de gerar esse desenvolvimento tecnológico, seriam essas regiões capazes de participar efetivamente dessa produção?
3) Estariam os biocombustíveis sendo oportunamente o bode expiatório para o problema da fome nos paises menos desenvolvidos?

4 Comentários:

Às 19 de novembro de 2007 às 17:35 , Blogger Unknown disse...

tu sabe de alguma fonte que faça a comparação do preço da comida pela renda média (ou algum outro dado melhor) desde malthus até hoje?

 
Às 19 de novembro de 2007 às 17:49 , Blogger Paulo Vaz disse...

rapaz, deve ter vários trabalhos acadêmicos sobre Malthus, tipo onde ele acertou e onde errou e tal, eu não sei nenhum pra te indicar não, mas nada que o google acadêmico não resolva esse nosso problema kkk.
Mas de uma forma geral, ele foi um grande economista, foi bem escutado e foi caricaturado por sua teoria que foi colocada de formar vulgar ( aquele lance da progressão geométrica e aritmética e tal) mas na essência Malthus iniciou a discussão sobre problemas com a Demanda que vão servir de base para as teorias Keynesianas ( quiçás das mais importantes do século XXI)

Mas sem enrolar e respondendo tua pergunta, se Malthus tivesse certo a população mundial não estaria em 6 bilhões hoje!! seria impossivel dada a tecnologia de produção de alimentos do século XVIII.

Quanto aos trabalhos tu pode encontrar algo sobre os Neo-malthusianos eles que tem levantado o problema da fome como algo bastante atual, podendo se encaixar essa discussão do peso no orçamento familiar do gasto com alimentação!!

 
Às 21 de novembro de 2007 às 18:30 , Blogger Guilherme Stein disse...

favor ler minhas respostas às suas críticas nos comentários.

 
Às 22 de novembro de 2007 às 18:05 , Blogger Guilherme Stein disse...

não incomodou... absolutamente!

muito obrigado por ler nosso blog.

Desculpe se fui muito agressivo.

Eu gosto bastante do seu blog.

 

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